Eu era a menininha com a avó, no velório, assistindo a passagem dos parentes e o corpo do tio, acomodado no caixão de madeira brilhante, coberto...
de flores. O primeiro velório: cheiro de velas e crisântemos (as flores de defunto), semblantes fechados, véus, coroas, castiçais.
A certa altura, começo a chorar, em choro convulsivo abraço minha avó.
- Não sabia que você era tão apegada ao Mariano.
Não era. A morte havia chegado a mim, como realidade. Como realidade o sentimento de perda, de perecível, aquele cheiro me...
penetrava. Minha avó, minha grande amiga e meu apoio, com quem crescera, não era eterna.
- Vó, promete que não vai morrer antes de mim? Promete, vó! Promete!
As lágrimas rolando, molharam nossos rostos, no abraço recebido.
- Não posso prometer uma coisa que não sei se serei capaz de cumprir.
A cena me acompanhou a vida inteira. E um nó na gargante sobe, trava e me engasga. Engulo o engasgo e fico com a dor.
O que eu pedia?
Que jamais vivesse sem ela, sem sua companhia, sem saber que ela estaria lá, a me guiar, a me acompanhar, a me amar. Minha avó.
Fui egoísta? Talvez.
Se a morte é nossa grande certeza, está acompanhada da certeza de que alguém ficará sozinho e amargará a perda. Essa perda seria infligida a minha avó, se fosse eu a primeira.
Ela se foi, há mais de vinte anos. E vive. Em mim, nos meus pensamentos, na minha alma, no meu coração, tão pequeno quando sua ausência é mais sentida.
Tantas coisas a fazem renascer, mas a verdade inexorável é que a vida renascida é feita de lembranças, fugaz, etérea. Não há o novo, porque vida de verdade gera brotos e mudanças. As lembranças são estáticas.
Uma de nós. Uma de nós teria que ir primeiro, a menos que fôssemos juntas. A mim, a mais nova, caberia a tarefa natural de viver.
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Maria da Gloria Perez Delgado Sanches
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